Mesmo que nâo seja um dia feriado, o dia de São Jordi celebra-se, sem dúvida, a festa mais popular de todas as que acham-se no calendário da Catalunha.
Mas quem era Sant Jordi?
Sant Jordi, Sâo Jorge, Saint Georges, San Giorgio, nâo importa como seja chamado é um dos santos mais venerados em toda a Europa.
Embora mais e mais vozes considerem que talvez nunca tenha existido, a tradição nos diz que Georgios, cujo nome em grego significa aquele que trabalha na terra, era um soldado romano e cristão. Na época das perseguições de Diocleciano, as últimas e mais cruéis das várias que aconteceram, Georgios não gostou de renunciar à sua fé e, por isso, morreu martirizado. Estamos a falar do século IV dC. Sua veneração, das terras do Oriente Próximo, espalhou-se rapidamente pela Europa, por causa principalmente das peregrinações à Terra Santa.
Mas foram as Cruzadas, nos séculos IX e X9, que espalharam a fama do soldado-cavaleiro, que se tornou um herói na luta contra o mal. Assim, rapidamente, seu culto se espalhou pela Grécia, Rússia, Inglaterra, Portugal, França, Castela … e também para a Coroa de Aragão.
Tal foi sua influência, especialmente da expansão mediterrânea da coroa catalã-aragonesa, que no século XV Sant Jordi substituiu em sua categoria de padroeiro a São Martinho de Tours, que tradicionalmente tinha sido o santo mais venerado da Catalunha desde os tempos Carlos Magno.
Oficialmente. Porque da proteção de Sant Jordi na batalha, o rei Jaime I já tinha falado em suas crônicas, quando explicou a conquista de Maiorca. E também tinha sido referido por textos mais antigos que o tornaram o paradigma do cavaleiro medieval.
O herói e a sua lenda
A lenda mais conhecida de todas as que o rodeiam nos conta sobre sua luta contra o dragão. Na verdade, estamos à frente de um mito que vem das culturas anteriores ao cristianismo e que já aparece na mitologia egípcia e nas culturas persa e até mesopotâmica.
Na Catalunha, essa lenda coloca Sant Jordi a lutar nas muralhas de Montblanc, uma cidade localizada entre Tarragona e Lleida. Montblanc, dominada por um dragão terrível que soltava fogo de sua boca, vivia aterrorizada. Para tentar acalmar o mau humor e a fome da fera, os habitantes de Montblanc estavam a sacrificar animais até que não tiveram mais criaturas vivas do que seres humanos. E assim o conselho decidiu sacrificar as donzelas.
Diz a lenda que a má sorte (ou boa sorte, segundo de como você a vê) quiz que a primeira das sacrificadas tivesse que ser a filha do senhor de Montblanc. E quando a menina se dirigiu à gruta onde aquele monstro estava escondido, Sant Jordi apareceu com sua armadura brilhante na cima de um cavalo branco e com uma lança enorme perfurou o pescoço do dragão, que caiu morto a seus pés.
Do sangue que caiu ali, uma roseira de rosas vermelhas nasceu. Sant Jordi apanhou uma delas e deu para a princesa.
E é isso. Não sabemos mais nada. Não sabemos se eles se casaram ou não, se foram felizes ou se divorciaram. Nada mais. Sabemos apenas que, no século XV, em Barcelona, acontecia uma Feira de Rosas no recentemente inaugurado Palácio da Generalitat, e que naquele dia os cavalheiros davam rosas a suas damas.
Apenas rosas?
Mas na Catalunha, Sant Jordi se tornou o Festival da Rosa e também do Livro.
Porque esses são os presentes que se espera no dia de Sant Jordi. Não há surpresas, tudo está estabelecido. Também não deve quebrar a cabeça para escolher com que surpreender nosso casal.
Uma rosa e um libro
A rosa, vermelha. Ou qualquer cor, porque além das vermelhas, existem rosas brancas, amarelas ou rosa pálidas. E nos últimos anos, também azul, violeta, preto ou até com pétalas de cores diferentes. O importante é que haja uma rosa. Escolher a cor vem depois.
E um livro. A tradição de dar um livro para Sant Jordi foi acrescentada à festa já no início do século XX. Um livro, seja ele qual for. Não importa se é um tratado sobre filosofia, um romance de intrigas ou uma história em quadrinhos. O importante é que seja um livro.
E é que 23 de abril é um dia intimamente ligado à literatura. Era 23 de abril, o de 1616, quando Miguel de Cervantes morreu. E nesse mesmo dia, mesmo que conforme com o calendário juliano, William Shakespeare também tenha morrido. Desde a década de 1920, um livro foi adicionado ao presente da rosa.
#ficaremcasa mais sem esquecer celebrar Sant Jordi
Este é um resumo da história de São Jorge. Agora, cabe a você, leitor, fazer sua própria história de Sant Jordi.
Neste ano especial em que #ficamosemcasa, a história se torna novamente um símbolo da luta contra o mal. Contra o #covid19.
Este ano não encontraremos as ruas cheias de pessoas desde o início da manhã. Não vamos achar barracas adornadas com a senyera, a bandeira da Catalunha, cheias de rosas e livros. Os escritores também não dedicaram suas publicações.
Mas Sant Jordi estará lá. Com rosas de papel e livros, em formato pdf, na forma de um voucher para ser trocado em alguns meses ou simplesmente recuperando o livro que há muito se esconde em casa entre tantos outros.
Porque o espírito de Sant Jordi estará lá. Porque é assim que celebramos o dia dos apaixonados na Catalunha, o dia do amor, mas também o dia da amizade.
E se ha alguma cosas que estamos a sentir nessas semanas de confinamento é a saudade de expressar tudo isso.
Por tanto, este ano, #fiqueemcasa, mas comemore Sant Jordi. Desenhe uma rosa e dedique um livro. Para o seu casal, sua namorada ou qualquer pessoa que você queira dizer o quanto é importante para você. Ou para você. Porque todos nós merecemos uma rosa e um livro, pelo menos uma vez por ano.
Feliz Sant Jordi 2020
Quando tudo isso acabar, a celebração de Sant Jordi 2020 retornará às ruas. As guildas de floristas e livreiros da Catalunha concordaram em celebrar Sant Jordi em 23 de julho.
Enquanto isso, na sua próxima visita em Barcelona, gostaria de caminhar conosco pelo Bairro Gótico e encontrar algumas das muitas representações de Sant Jordi que decoram seus edifícios? Se preferir, passar o dia fora de Barcelona também pode ser uma boa maneira de encontrar a pegada de Sant Jordi no território. Nós o acompanhamos até Montblanc para conhecer o lugar onde tudo aconteceu.